sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Um rolê de cadeira de rodas (aprendizado 4)

Apenas após 5 semanas de gesso, tive coragem de sair pra um lugar que não fosse o médico (eu já tinha ido a 2 restaurantes, mas cosa rápida: comer e sair). Foi realmente por necessidade, afinal o Natal estava chegando e eu precisava comprar presentes de amigo oculto, presentes gerais e umas roupas e sapatos que são adequados para usar de gesso (tô usando normalmente vestido longo e sandália de borracha - tipo melissa - ou tênis, que não escorregam e deixam o pé firme).

Bom, resolvi que iria ao Shopping, porque concentra tudo num lugar só; porque é coberto e protege da chuva; porque tem piso liso e acessibilidade; por ter cadeira de rodas e cadeira elétrica disponíveis, que me poupariam de ter que levar uma dentro do carro; por ter comida (Bacio di Latte 😍).

Paramos o carro no Valet (primeira vez que usamos; única razão pra fazer a gente pagar uma fortuna para entrar no shopping), pedimos a cadeira e o rapaz chamou no rádio. Uns 10 minutos depois, a cadeira de rodas chegou (as elétricas estavam todas ocupadas; mas achei bom porque a cadeira de rodas normal é bem menor e passa pelas araras das lojas com facilidade; além disso, eu tenho força nos braços - viva o crossfit! - pra me empurrar tranquilamente).

Saí do carro e sentei na cadeira. Meu marido me empurrava pelos corredores do shopping. Eu pedia pra parar em alguma loja, ele parava a cadeira em frente e eu entrava sozinha - não queria que ele visse o que eu comprava. A dinâmica funcionou.

O que não funcionou foi alguns corredores de lojas (alô, Luigi Bertolli, vamo melhorar a largura dos corredores) serem muito estreitos, como também balcões do caixa muito altos. Aliás, tem muita coisa exposta no alto, onde os cadeirantes e anões não conseguem alcançar. Tive que pedir ajuda várias vezes.

É estranho ver o mundo que estamos acostumados a ver, a altura de 1m do chão. Nada foi feito ou pensado pros cadeirantes ou anões.

Alguns vendedores foram legais, super me ajudavam a pegar as coisas, outros neutros (me indicavam os locais, só) e outros eram sem noção (faziam que não me viam ou, quando derrubei um sapato no chão, sequer fez a gentileza de buscar pra mim; saí empurrando a cadeira por entre as pessoas só pra recolher o sapato - Alô Via Mia, treinem sua vendedoras!).

No mais, me senti bem por estar passeando. Estava há muito tempo sem fazer isso e foi ótimo. Por outro lado, cada dificuldade que percebi existir nesse mundo dos PNE me fez perceber o quanto ainda estamos longe de entendê-los e o quanto falta para tudo ficar mais fácil pra eles, que vencem pequenas batalhas diariamente.

Um salve para os cadeirantes e todos os PNEs do nosso mundo.
Tenho orgulho de o quanto vocês se superam diariamente e faço votos sinceros de que ainda consigamos ver esse mundo mais adaptado a vocês.

Tchau!


Consulta de 6 semanas

Dia 19/12 estive novamente no doutor para ele me avaliar. A última consulta havia sido 14 dias atrás. Ele havia me prometido que nessa consulta, iríamos tirar o gesso e colocar o robofoot. Fiquei muito animada, já havia feito alguns planos, pois para mim, colocar o robofoot significaria ANDAR. Ledo engano...

Chegando na consulta, que demorou demais pra começar (a clínica estava lotada, parecia que tavam distribuindo panetone e eu estava agendada de encaixe), o doutor logo pediu raio X. Ele avalioi a fratura e viu que estava evoluindo muito bem, já dava pra ver a formação de uma mancha, certamente de tecido ósseo, sobre a fratura. Ele disse que estava na hora de tirar o gesso! Fiquei aliviada!

Mas, na sequência, ele disse: CONTINUA DE MULETAS POR MAIS 3 SEMANAS! Ah... que droga! Fiquei desapontada!Achei que ficaria sem ela nas festas de fim de ano, que teria mais conforto ao me deslocar... Mas é isso. Estou de robofoot, mas sem poder pisar.

Na terceira e última semana de muletas, que é na primeira semana de 2017, começo a fisioterapia. Só serei autorizada a pisar na medida em que o fisioterapeuta me avaliar e ver eu progresso. Acredito que eu possa começar a pisar (fraco) após 1 semana de fisio.

O médico me passou 10 sessões, as quais espero que eu faça em 2 semanas. Quero me empenhar e fazer 5x na semana (estou de licença médica, tenho tempo disponível). Só preciso me organizar com meu esposo para ele me levar e buscar na fisio. Quando eu puder dirigir, ficará mais fácil.

O médico também me alertou a respeito de ARTROSE. Disse que, em virtude do trauma, esse osso vai pifar mais cedo do que o normal (artrose por envelhecimento). Mas eu espero muito que o esporte consiga reverter essa tendência. Eu sempre fui esportista, então talvez isso me ajude agora e depois, para que não fiquem sequelas.

Agora é esperar essas duas semanas de festas passarem para que a fisioterapia inicie e eu inicie os progressos. Dia 17/01 tenho perícia médica do trabalho e o doutor já me deu atestado de mais 60 dias (que iria ate 19 de fevereiro). Então, lá pra março eu devo retornar ao trabalho. Dureza, né?

Então é isso... Paciência!



terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Planos para 2017

Como falei no segundo post do blog, eu tava cheia de planos para 2017. Todos eles são impedidos de ocorrer, no prazo que estipulei, por causa da fratura. Assim, com o final do ano chegando, esse negócio de avaliar o presente e planejar o futuro, eu resolvi pensar em coisas que eu poderia fazer com as limitações que terei.

Em primeiro lugar, meu objetivo é me recuperar. Quero voltar 100% da minha capacidade física (força, mobilidade, resistência).  Para isso, entrarei de cabeça na fisioterapia e nas demais recomendações médicas para encurtar ao máximo esse prazo.

Acredito que a última coisa que devo conseguir fazer seja a corrida de rua, devido ao alto impacto dessa atividade sobre o tornozelo. Entretanto, será o meu grande objetivo ou meta para que eu me apegue no processo de recuperação.

Nesse sentido, ontem resolvi uma coisa: vou correr uma meia-maratona em 2017. De um jeito ou de outro. Nem que eu comece correndo e termine andando. Quero fazer. E pesquisando sobre esses eventos, escolhi uma muito especial: Noronha 21k. É uma corrida incrível, porque acontece lá em Fernando de Noronha, num visual belíssimo. Como tenho vontade de conhecer a ilha, será uma oportunidade maravilhosa para aliar o turismo com a corrida.






Esse ano, a prova ocorreu em 26 de novembro. Logo, tenho cerca de 1 ano de preparação, a contar desde já. O projeto tem também como linha a qualidade de vida e alimentação saudável. Quem sabe, eu até crie uma hashtag e um perfil no Instagram para acompanhar isso de perto.

Ressalto que nunca corri uma meia maratona. Corro só por brincadeira, mas corro há muitos anos, mas nunca mais que 10km. Não treino sério, não controlo meu tempo, esse tipo de coisa. Mas nessa meta, terei que planejar as coisas direitinho, talvez sendo necessário até uma assessoria esportiva especializada.

O primeiro semestre desse ano acredito que seja apenas uma preparação motora e fortalecimento, porque afinal de contas eu quebrei o osso, perdi muita massa muscular, tive atrofia no membro inferior, fatos que me colocam numa situação complicada para qualquer tipo de esporte.

Porém, acredito que depois do meio do ano os treinos de corrida possam começar a ocorrer em ritmo leve. Enquanto não corro, verei a possibilidade de fazer natação, apesar de eu odiar!

No curto prazo, quando eu tirar o robofoot (semana que vem), pretendo voltar a treinar superiores e um pouco de coxa, pra ver se recupero um pouco da musculatura dos braços, costas e da coxa direita. Isso se o médico deixar... estou torcendo pra que sim!

Estou muito empolgada com esse projeto e espero conseguir concretizá-lo.
Daqui 1 ano tudo estará bem melhor! Tomara!

Tchauzinho!
Nos vemos em Noronha!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Minha rotina com gesso

Desde que me fraturei, a rotina tem sido basicamente a mesma. Eu fico em casa o dia inteiro, deitada/recostada no sofá, com a perna para cima, porque isso melhora a dor e faz com que a circulação melhore. Se eu coloco o pé para baixo, em menos de 2 minutos ele já fica escuro devido à má circulação sanguínea. Isso retarda a recuperação e isso é o que menos desejo. Estou seguindo à risca as recomendações médicas e acredito que isso esteja contribuindo para a minha recuperação. Dessa forma, sinto pouquíssimas dores.

Eu fico em casa, alterno entre ler, ver TV (séries, filmes, jornal, novela, GNT, etc), estudar pro mestrado (escrever), navegar na internet (procuro desde estratégias para a recuperação mais rápida até curiosidades), assistir alguns youtubers que gosto... esse tipo de coisa.

Eu praticamente não saio, a não ser que seja para ir ao médico. Essas saídas me cansam um pouco, porque preciso andar muito de muletas e, por várias vezes, deixar a perna para baixo. No início, achei que eu ia conseguir andar de boa com a cadeira de rodas, mas a perna pra baixo faz doer e, por isso, não gosto de sair.

Estou no final do tratamento de gesso e, como estou precisando sair pra comprar algumas coisas urgentes de natal (presente de amigo oculto, que só você pode comprar), acho que vou dar um role no shopping (coisa rápida, no máximo 2h) pra agilizar tudo isso. Lá tem uns carrinhos que posso usar, são aparentemente confortáveis, acho que vai rolar. Já tomei coragem para apoiar o pé no chão (de leve), então isso ajuda na circulação enquanto a perna tá pra baixo.

No mais, estou aguardando a próxima segunda-feira para retirar esse gesso, que já está me incomodando bastante. Tá bem folgado, sinto muita coceira agora e então não vejo a hora de resolver isso e ir pra próxima fase.

Tchau!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Aprendizado 3: Minhas finanças

A terceira coisa que aprendi com a fratura é que o fato de estarmos sempre na rua, faz com que nossos gastos aumentem ABSURDAMENTE. Essa lição eu tirei na época da licença do mestrado mas foi mais intensa agora, que as saídas são apenas para ir ao medico.

Em relação à alimentação, obviamente, os gastos são bem menores quando fazemos todas as refeições em casa. Mas o que mais me impressionou foram esses pequenos gastos, como presentinhos, itens de perfumaria, Farmacia, papelaria, coisas do tipo.

A internet tem funcionado como um incentivo ao consumo (adoro comprar pela internet) porém tenho sido bastante controlada em não ceder aos impulsos.

Tenho aproveitado esse período para saldar algumas dívidas que estavam se arrastando. Passei a colocar metas mais rígidas para consumo e para liquidar dívidas, também estou controlando os gastos pelo aplicativo de celular. Estou animada e disposta a mudar meu comportamento.

Sou uma ávida consumidora, pra mim e pros outros. Adoro dar presentes. Mas estou revendo essa minha característica, também optando por fazer escolhas mais econômicas. Pra completar, tenho uma péssima memória, então sempre gasto mais no cartão de crédito Pq não lembro que comprei. Resolvi, por isso, cortar os cartões e usar apenas débito. Tá sendo a experiência muito positiva. Meus cartões realmente tinham valores bem altos!

Aprendi que nossa rotina nos empurra gastar com muita besteiraa e que esses pequenos gastos impactam pra caramba no orçamento. Agora To mais consciente disso e pretendo levar esse cuidado pra sempre.

Tchauzinho!

Consulta de 4 semanas

Dia 05/12 estive no médico. Ainda estou de gesso. Estava na expectativa de trocar o gesso, pois esse que estou já tem 2 semanas e sinto que a perna afinou mais. Porém essa ultima semana quase não senti dor, o que me deixou mais aliviada em relação a essa folga do gesso. O primeiro gesso que coloquei ficou frouxo pra caramba após 15 dias e doeu MUITO. Tive que trocar. Mas esse segundo gesso não foi trocado. O médico disse que esta ajustado. Como não dói, tá tudo bem ficar com ele.

Tiramos raio X. Ainda não vemos calo se formando na fratura, mas por outro lado ela mantém-se no mesmo lugar. O protocolo ainda é manter a perna pra cima. O gesso será mantido por mais 2 semanas, totalizando 6 semanas. Depois disso, o médico disse que poderei colocar o robofoot. Estou muito animada para isso, afinal será mais fácil ter mobilidade e, principalmente, tomar banho. 😁

O doutor falou que em janeiro começo a fisioterapia. Só quando eu ganhar autonomia, parar de sentir dor, conseguirei trabalhar. Estou achando que isso será lá pra março. Não vou criar expectativas pra ser antes, prefiro me surpreender que me frustrar.

Tudo ainda é incerto, mas eu sinto que estou melhorando. As dores diminuíram consideravelmente. Estou fazendo tudo que os médicos mandam. Até fui ao angiologista ontem, conforme recomendação do médico. Ele avaliou meus dedos (a perna não tem como pois este coberta pelo gesso) e disse que a circulação aparentemente está boa, que a dormência que sinto quando fico de pé é super normal e que  devo fazer um exame pra ver se a circulação tá boa após tirar o gesso. Mas fiquei bem tranquila. Ele recomendou também que a perna ficasse pra cima para não acumular sangue no pé.

Vamo Q Vamo. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Tudo sobre minha mãe (ou Aprendizado 2)

Minha mãe acabou de aposentar. No primeiro dia, ela veio aqui e logo me disse: "cuidarei de você" e assim tem acontecido desde então. Ela vem normalmente na segunda e na quinta à noite vai embora. É que segunda e sexta ela faz pilates (sim, minha mamãe é jovem e moderna). Nos finais de semana ela fica com o namorido (sim, minha mae namora e não quer casar 😂) e também fica na casa dela fazendo as coisas dela e também mimando um pouco a minha irmã mais nova (leia-se: fazer comidas gostosas para a linha irmã).

Quando minha mãe está, ela faz comida pra gente (inclusive as marmitas do meu esposo levar pro trabalho), dá uma ajeitada na casa, me ajuda a tomar banho, pega as coisas que quero pra eu não precisar me levantar, me faz companhia. Tá sendo uma ajuda sem igual. Já fico pensando quando eu tiver um nenemzinho, vai ser mais ou menos parecido.

A coisa mais importante que descobri desde que ela está aqui em casa, é que mãe é bicho besta. Faz tudo para ver o filho feliz. Eu nunca havia reparado nisso de uma forma tão intensa. Acho que É porque somos adultos agora, ou seja, não somos mais aquelas crianças fofinhas que inspiravam amor. Agora, parece que tudo que recebemos fica mais transparente. Temos a compreensão plena da vida e, ao mesmo tempo, já não somos mais aquelas criaturinhas amáveis. Parece que, nessas condições, somos levados a perceber que o verdadeiro amor é esse, que se doa sem esperar nada em troca e sem fazer exigências, sem ter sido inspirado por nada, somente pelo sentimento de cuidado e de poder fazer ao outro aquilo que ele deseja e precisa.

Minha mãe simplesmente passa o dia perguntando o que ela deve fazer para melhorar a minha situação: pergunta o que quero pro almoço, pro lanche, pra janta; pergunta que se quero tomar banho e se hoje é dia de lavar o cabelo; faz, de surpresa, alguns mimos pra mim, tipo trazer lanchinhos e comprinhas da rua... E toda vez que eu respondo sobre quais são as minhas preferências, ela NUNCA SE QUEIXA OU SE QUESTIONA. Se eu digo que quero tomar banho as 16:00 ou às 23:00, tanto faz pra ela. Porque é a minha vontade. Sabe, às vezes nem sei lidar com tamanho zelo.

Ela só quer me ver feliz. Despreocupada, animada com a minha recuperação, confiante e alegre.

Esse amor, visto por esse ângulo, é a coisa mais incrível que já presenciei com a minha mãe. Eu jamais havia percebido esses detalhes, então tenho aqui o meu segundo aprendizado desde que me machuquei.

Nada que eu faça, no mundo, vai retribuir tudo o que ela tem feito (e fez, até hoje) por mim. Agradeço agora, inclusive, em nome do meu marido, que também tem sido cuidado por ela. São momentos que a vida nos proporciona para que sentimentos como a gratidão surjam e nos reforcem certas lições (no caso, o aprendizado 1).

Mãe é o ser mais incrível desse mundo; faz o impossível para que seus filhos sejam felizes e, em momento algum, pedem pelo nosso amor.

Obrigada, mamãe.
Gratidão e amor eternos!